ANELITO DE OLIVEIRA -
Escritos em momentos diferentes, de meados dos anos 1990 a meados da primeira década deste novo século, estes poemas abaixo, que vejo sob o signo do assombro, foram publicados na Antologia de Poesia Afrobrasileira, organizada por Zilá Bernd e editada pela Mazza Edições neste fim de 2011.
MEIO-FIO
Negros
Como bichos
Uns passam
E olham
Uns olham
E cospem
Uns sentem
E correm
Negros
Como lixos
A MÃO
A mão que escreve é
A mesma, escrava,
Que apodrece, que
Me afaga, mas que
Também me esmaga,
Já não é uma mão,
Mas, sim, minha mãe,
Esta mão que escreve,
Escava e me enegrece.
A PORTA
Bato na porta
De mim mesmo
Bato, urro
Esmurro o silêncio
Não estou em casa
Não tenho estado
Aqui, nem mesmo
Sei se ainda moro
Aqui, tampouco há
Quanto tempo saí,
Se é que saí
ALÉM DA PELE
quem
mais
(além da pele)
fala comigo perto de
você
você aquém do outro
e fora do todo
ouvido
eu osso de sons
sendo
no lixo a sós entre
escombros
sem
nem mesmo
nem nunca
o céu
esta carne rude e
incolor
esta coisa
quem
onde
quando até o corpo
é terra
pode vir
a ser
por trás da fumaça
do carvão
dentro do cru
contido
crítico
coração
?
BRANCURA NEGRA
Estou branco
Muito mais branco
Profundamente mais branco
Mais
Muito mais
Amargamente mais branco
Que esta folha de papel tão branca sobre a mesa
A emitir incansavelmente seus brancos
E me lembrar que estou branco
Como a tristeza mais negra
Da sua brancura tão branca
Neste mundo
A esta hora da tarde
De mais nada
Caro Anelito de Oliveira, que bom encontrar nestas linhas, uma leitura que corre nas minhas veias. que delícia ler na sua página a colaboração que me devolve à calçada, ao tronco e à minha veia européia.
ResponderExcluirSábias e sangrentas palavras.
não que sejam deprimentes e melancólicas e sim reflexivas.
Abçs