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segunda-feira, 5 de abril de 2010

POESIA | Alguns

A Valentim Facioli



Alguns não podem tomar partido
Porque já são o partido

Alguns não podem tomar partido
Porque já estão partidos

Porque são o que o partido fez
Com eles com elas com todos

Com todas que o partido filiou
Onde quer que tenha atuado

Ou ainda esteja atuando, eles,
Elas, os alistados do partido,

Agora são apenas uma parte do
Processo que os partiu, não são

Mais o que eram um dia, foram
Partidos como madeira bruta em

Carvoeira, foram partidos ao
Meio, ao lado, ao centro, abaixo,

Ao fundo, em cima, partidos a
Golpes de machado, partidos

Aleatoriamente e, à maneira
Histórica, queimados, nas cinzas,

As partes desiguais vão revelando
O processo que se processou,

Partes que já não pertencem a um
Mesmo todo, pedaços de muitas

Árvores de uma mesma vida agrária,
Que o partido sempre exaltou nos

Movimentos pela cidade, que agora
Se desconhecem porque foram

Reduzidos a partículas contraditórias
Porque foram convertidos em coisas

Que agora se confrontam num só
Corpo que agora não cabem num

Mesmo corpo, o corpo do homem
Partido, do precariamente humano,

Para alguns, não há partido a tomar
Porque já tomaram todos porque

Já partiram tudo que tinham a partir,
Para alguns, não é mais possível

Tomar partido como expressão de
Determinada causa porque não há

Mais a dimensão da causa, não há
Uma verdade em causa, há apenas,

Como efeito das tantas causas, este
Desconhecimento do que se é no

Mundo agora com suas velhas urnas
Cercadas pelos mesmos candidatos


Anelito de Oliveira

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