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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Três anos esta noite | ANELITO DE OLIVEIRA

Três anos esta noite, ou já na noite anterior - 27 de janeiro de 2012.
Tudo começou aqui exatamente dia 27 de janeiro de 2009.
Quero agradecer aos preciosos (as) seguidores (as) pelo convívio e lamentar que até hoje ainda não consegui me inscrever como seguidor nos seus blogs.
Neste momento, desde o fim da noite de ontem, tenho refletido se vale a pena continuar com este espaço.
Ando, mais do que nunca, decepcionado com a internet e todas as novas "tecnologias da inteligência" (P. Lévy), como o celular.
Será que vale a pena tentar fazer algo diferente - pensar é a diferença - no mundo de "Luiza que está no Canadá"?
Estou no fim do mundo, ou no começo - pode ser -, em pleno sertão, cercado de injustiças por todo lado, no reino do autoritarismo, da corrupção, de coronéis sanguinários e políticos bandidos.
O que importa aqui se Luiza, ou qualquer outra dondoca, está, esteve ou estará no Canadá?
Mas o que importa, para a maioria dos internautas, é exatamente a banalidade, os acontecimentos fúteis das vidas mais vazias do planeta.
A internet vai se tornando, assim, o grande lixão da pós-humanidade. O lugar apropriado para todo lixo simbólico, que corresponde a lixo real.
Não deveria ser assim, mas assim tem sido, sobretudo no ocidente pautado pelas elites cínicas estadunidenses.
A "primavera árabe", para citar um grande acontecimento, é demonstração de que a internet pode ser um instrumento eficaz em favor dos oprimidos.
Não tenho dúvida de que o "luizismo" dos dias que correm é fenômeno tipicamente brasileiro, das elites mesquinhas de um país mascarado.
Este blog está à margem da internet.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

APROXIMAÇÃO | Nicanor Parra

EL HOMBRE IMAGINARIO


El hombre imaginario
vive en una mansión imaginaria
rodeada de árboles imaginarios
a la orilla de un río imaginario

De los muros que son imaginarios
penden antiguos cuadros imaginarios
irreparables grietas imaginarias
que representan hechos imaginarios
ocurridos en mundos imaginarios
en lugares y tiempos imaginarios

Todas las tardes tardes imaginarias
sube las escaleras imaginarias
y se asoma al balcón imaginario
a mirar el paisaje imaginario
que consiste en un valle imaginario
circundado de cerros imaginarios

Sombras imaginarias
vienen por el camino imaginario
entonando canciones imaginarias
a la muerte del sol imaginario

Y en las noches de luna imaginaria
sueña con la mujer imaginaria
que le brindó su amor imaginario
vuelve a sentir ese mismo dolor
ese mismo placer imaginario
y vuelve a palpitar
el corazón del hombre imaginario



Nicanor Parra



O HOMEM IMAGINÁRIO


O homem imaginário
Vive num casarão imaginário
Cercado de árvores imaginárias
À beira de um rio imaginário

Das paredes que são imaginárias
Pendem antigos quadros imaginários
Irreparáveis fendas imaginárias
Que representam fatos imaginários
Ocorridos em mundos imaginários
Em lugares e tempos imaginários

Todas as tardes tardes imaginárias
Sobe as escadas imaginárias
E aparece na varanda imaginária
A olhar a paisagem imaginária
Que consiste num vale imaginário
Circundado por colinas imaginárias

Sombras imaginárias
Vêm pelo caminho imaginário
Entoando canções imaginárias
À morte do sol imaginário

E nas noites de lua imaginária
Sonha com a mulher imaginária
Que lhe ofertou seu amor imaginário
Volta a sentir essa mesma dor
Esse mesmo prazer imaginário
E volta a palpitar
O coração do homem imaginário



Aproximação Anelito de Oliveira





Sempre, ainda, muito difícil acreditar que haja um abismo entre nós, falantes forçados de português, e nosotros, igualmente forçados a hablar espanhol, na América Latina. E a verdade é que há. Estamos tão perto e tão longe de pessoas e autores extraordinários como o chileno Nicanor Parra (n. 1914), o inventor da antipoesia, o poeta e matemático recentemente agraciado com o célebre Prêmio Cervantes. "El hombre imaginario", publicado em 1985 na coletânea Hojas de parra, dá a medida precisa de uma obra desconcertante, que exige proximidade.| ANELITO DE OLIVEIRA