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domingo, 20 de novembro de 2011

POEMA | História

ANELITO DE OLIVEIRA -




A Paulina Chiziane




Primeiro os alvos
Primeiro os altos
Primeiro os astros
Primeiro os acres
Primeiro os alvos
Depois os negros


Primeiro os bancos
Primeiro as bestas
Primeiro os belos
Primeiro os bichos
Primeiro os bancos
Depois os negros


Primeiro os carros
Primeiro os corvos
Primeiro os coros
Primeiro os cactos
Primeiro os carros
Depois os negros


Primeiro os dados
Primeiro os ditos
Primeiro os dândis
Primeiro as damas
Primeiro os dados
Depois os negros


Primeiro as ervas
Primeiro as éguas
Primeiro os ecos
Primeiro os entes
Primeiro as ervas
Depois os negros


Primeiro os fortes
Primeiro as fontes
Primeiro os finos
Primeiro as feras
Primeiro os fortes
Depois os negros


Primeiro os puros
Primeiro os parvos
Primeiro os patos
Primeiro os porcos
Primeiro os puros
Depois os negros


Primeiro os últimos
Primeiro os únicos
Primeiro os unidos
Primeiro os úmidos
Primeiro os últimos
Depois os negros


Primeiro primeiro
Primeiro primeiro
Primeiro primeiro
Primeiro primeiro
Primeiro primeiro
Depois os negros




Fragmento de poema concebido em meados de 2001 pelas ruas de Belo Horizonte. Apresentei-o de improviso, à maneira jazzística, em algumas situações naquele período. Escrito somente na última madrugada de 16 de novembro e revisado hoje, tarde de 20 de novembro de 2011, em Montes Claros, pensando no sentido do 20 de novembro. Dez anos de cultivo de uma mesma compreensão sobre a situação dos negros no mundo. História de uma eterna espera, recentemente apontada, a sua maneira tão comovida, pela escritora moçambicana Paulina Chiziane, numa entrevista a um canal de televisão português: o mundo muda, as questões se resolvem por toda parte, e “minha África” (dizia ela) continua a mesma, esperando por soluções que nunca chegam. Cada negro é uma África emparedada. ANELITO DE OLIVEIRA