Páginas

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

APROXIMAÇÃO | Nicanor Parra

EL HOMBRE IMAGINARIO


El hombre imaginario
vive en una mansión imaginaria
rodeada de árboles imaginarios
a la orilla de un río imaginario

De los muros que son imaginarios
penden antiguos cuadros imaginarios
irreparables grietas imaginarias
que representan hechos imaginarios
ocurridos en mundos imaginarios
en lugares y tiempos imaginarios

Todas las tardes tardes imaginarias
sube las escaleras imaginarias
y se asoma al balcón imaginario
a mirar el paisaje imaginario
que consiste en un valle imaginario
circundado de cerros imaginarios

Sombras imaginarias
vienen por el camino imaginario
entonando canciones imaginarias
a la muerte del sol imaginario

Y en las noches de luna imaginaria
sueña con la mujer imaginaria
que le brindó su amor imaginario
vuelve a sentir ese mismo dolor
ese mismo placer imaginario
y vuelve a palpitar
el corazón del hombre imaginario



Nicanor Parra



O HOMEM IMAGINÁRIO


O homem imaginário
Vive num casarão imaginário
Cercado de árvores imaginárias
À beira de um rio imaginário

Das paredes que são imaginárias
Pendem antigos quadros imaginários
Irreparáveis fendas imaginárias
Que representam fatos imaginários
Ocorridos em mundos imaginários
Em lugares e tempos imaginários

Todas as tardes tardes imaginárias
Sobe as escadas imaginárias
E aparece na varanda imaginária
A olhar a paisagem imaginária
Que consiste num vale imaginário
Circundado por colinas imaginárias

Sombras imaginárias
Vêm pelo caminho imaginário
Entoando canções imaginárias
À morte do sol imaginário

E nas noites de lua imaginária
Sonha com a mulher imaginária
Que lhe ofertou seu amor imaginário
Volta a sentir essa mesma dor
Esse mesmo prazer imaginário
E volta a palpitar
O coração do homem imaginário



Aproximação Anelito de Oliveira





Sempre, ainda, muito difícil acreditar que haja um abismo entre nós, falantes forçados de português, e nosotros, igualmente forçados a hablar espanhol, na América Latina. E a verdade é que há. Estamos tão perto e tão longe de pessoas e autores extraordinários como o chileno Nicanor Parra (n. 1914), o inventor da antipoesia, o poeta e matemático recentemente agraciado com o célebre Prêmio Cervantes. "El hombre imaginario", publicado em 1985 na coletânea Hojas de parra, dá a medida precisa de uma obra desconcertante, que exige proximidade.| ANELITO DE OLIVEIRA

Nenhum comentário:

Postar um comentário