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terça-feira, 5 de abril de 2011

ARTIGO | Assim seja

ANELITO DE OLIVEIRA - Não abandonei este espaço, embora possa parecer - são dois meses desde a última postagem. Estou novamente aqui e gostaria, antes de mais nada, de agradecer àqueles (as) que têm me seguido e àqueles (as) que me leem volta e meia. Creio que já possa retomar as escritas depois de uma longa reflexão sobre o sentido de manter um blog. Não é a primeira vez que me vejo incerto sobre esse sentido, numa situação crítica. Novamente, concluo que o sentido passa pelo cerco à expressão que os próprios meios de comunicação tradicionais - rádios, tvs, jornais, revistas e editoras - impõem há vários anos no Brasil a todos (as) que são o que são. A transformação do "Mais!" em "Ilustríssima", na Folha de S. Paulo, é exemplo disso. No lugar de debates, futilidades. O esvaziamento do "Suplemento Literário de Minas Gerais" é exemplo disso. No lugar de literatura, camaradagens. Não há espaço nos meios de comunicação estabelecidos para dissonâncias, só para louvações. É uma situação que, no âmbito da literatura, vai tomando conta cada vez mais da internet, com as revistas online reunindo grupos de amigos, uns elogiando os outros, numa eterna repetição do Modernismo de 22. Sem dúvida, o cerco, melhor, o fechamento do cerco, à livre expressão é um dos traços mais eloquentes da inexistência de democracia real no país. Certamente, nunca existiu, talvez porque a democracia seja algo de índio, de negro, de mulher, de doente - de um lado considerado incongruente com uma ideia safada de Brasil. Nada melhor para ilustrar essa ideia safada de Brasil que o Big Brother de Pedro Bial. Sim, precisamente, mesmo que inconscientemente, meu silêncio nestes dois meses tem a ver com isso: o país é este - se alguém ainda tem dúvida -, aquele bando de vagabundos rindo da nossa cara no BBB e tratados como heróis, e como escrever em face deste país? Mas claro, a literatura é um escrever contra, sempre, contra tudo que nos humilha, que nos enoja, que nos entristece, que nos desmerece. O que dizemos na literatura, com a literatura, não é mesmo possível, nem será possível, dizer em outro lugar. O blog pode ser, deve ser, um espaço de resistência ao que está aí nos oprimindo a cada dia. E aqui estarei, a partir de agora, sem rosto, sem biografia, sem curriculum (a biografia de um escritor são suas palavras e silêncios desde sempre), uma voz no anonimato, uma nova identidade, a outra. Assim seja, aqui neste território impossível (a literatura) no velho mundo das possibilidades rentáveis.

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