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domingo, 22 de julho de 2012

ACAMPAMENTOS 4 | Anelito de Oliveira

Chegamos, então, à cidade – depois das margens. Também tinha ladeiras, extensas. Para chegar, sair. Ficava depois de uma, à beira de outra. Era um apartamento. Alterava a ideia de morar. Fragmentava, reduzia, afastava. Tinha três dormitórios. Num deles, os livros se abrigaram. Tinha uma sala ampla, conjugada, com uma porta-janela para a rua. Os móveis de sucupira ficaram à vontade. Parecia perfeito. Não tinha luz, ainda – demoraria dois dias para chegar. Não importava. Era um apartamento. Primeira locação. Da varanda, uma paisagem. A cidade não estava totalmente ali. Ou as margens ainda resistiam ali. Contra elas, alguns prédios se apresentavam. Logo, a paisagem seria danificada. Mas estávamos do lado de dentro, onde tudo era infinito. As noites, as noites – a serenidade, o aroma de mato. Tanta música, tanto vinho, tanta poesia. Até que a pia começou a se entupir, a rede de esgoto começou a se complicar, começou a faltar água. As brigas no andar de cima, discórdias com vizinhos dos lados. Tudo se despencava. Não dava mais.

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