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segunda-feira, 1 de junho de 2009

LITERATURA | Anotação dois

ANELITO DE OLIVEIRA - Maio se foi. Constato agora: já estamos em junho, um outro mês. Maio foi altamente improdutivo neste espaço, apenas uma postagem. Raramente estive aqui. Fiquei dias desconectado, tentando resolver os velhos problemas práticos. Desencantado, retomei os problemas teóricos. Pensei (talvez seja apenas o caso de confessar aqui) constantemente na dificuldade de escrever constantemente. Não é questão de assunto. Claro que há uma gama enorme de assunto todo dia a nos torturar. A questão é mesmo encontrar uma forma adequada para expressar cada assunto. Nada novo, obviamente. À minha maneira: encontrar a forma adequada de expressão é algo como responder à natureza de um assunto. Expresso adequadamente, qualquer assunto se torna interessante. Inadequadamente expresso, qualquer assunto se torna desinteressante. Um mês, por exemplo, o mês em si, o que se passou, maio. Drummond expresou maio como "o claro mês de porcelana". Depois de tomar conhecimento desta expressão, num dos seus versiprosas, nunca mais percebi maio do mesmo jeito. Deixou de ser para mim um mero mês. O mesmo aconteceu com abril depois do poema de Eliot. Só vejo abril como "o mais cruel dos meses". O claro e o cruel - maio, abril. A expressão altera definitivamente uma percepção. Antes de abril, fico pensando em abril. Depois de maio, fico pensando em maio. O que aconteceu do início do ano até abril? O que acontecerá do fim de maio até o fim do ano? O sentido de escrever literatura, de aguçar o imponderável, tem a ver com isso, digo, com esse tipo de sensação. Cabe?

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