Páginas

sábado, 6 de junho de 2009

LITERATURA | Anotação três

ANELITO DE OLIVEIRA - Não falei nada a respeito da nova mudança de "roupa", e agora, altas horas de outro dia, vejo que é necessário. Não sei exatamente por que é necessário, mas vejo que sim. Poderíamos não ver necessidade de dizer certas coisas, ficar sem dizê-las, não dizer nada. Mas o fato é que vemos necessidade, que nós mesmos inventamos, que nós mesmos criamos. Quem necessita realmente daquilo que dizemos no lugar da literatura? Um escritor é um inventor de necessidades discursivas. Dizer algo sobre a aterrissagem do "primitivo" Basquiat por aqui tem a ver com isso.
Há tempo não pensava em Jean-Michel Basquiat, o ícone da pop art nos anos 80 nos EUA, filho de haitiano e portorriquenha, admirado exaltado fetichizado por tantos, a começar por Andy Warhol, a pop art em si. Não pensar num artista, num acontecimento processado no mundo das expressões artísticas, jamais significa um esquecimento. A experiência estética é fundamentalmente inesquecível, não porque o queremos, mas porque, uma vez efetivada, passa a fazer parte da nossa natureza, passa a atuar, especialmente, sobre nossa maneira de sentir coisas, situações etc.
Assim, não pensava em Basquiat ultimamente, mas não havia esquecido sua obra, esse modo de ser de uma obra que acabou por se fixar como atmosfera de um tempo: esse modo de ser desastre no ar, desvanecimento se dando numa supefície frágil, desesperante forma de desespero. Não há pavor nesse processo, não há algo que se possa chamar de escandalosamente ocidental, histeria logocêntrica. Há, por isso mesmo, um desdobramento do nonsense como fundamento da normalidade de cada dia: 228 pessoas voando para a morte, morrendo inocentemente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário