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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

LITERATURA | Criação

A proposta
Por aqui não acontece nada. E é por isso, por isso mesmo, está vendo?, que insisto em escrever. Há muita gente interessada em nada. Que nada aconteça. Que ninguém diga nada. Que todos fiquem em silêncio. Ou que todos digam futilidades. Dá no mesmo. Sempre se vai de nenhum lugar a lugar nenhum. Mas chega-se, assim, àquele lugar, àquele. Você sabe. Sabe bem onde fica. Aí. Esse lugar é político por excelência. Por isso mesmo censurado. Por isso mesmo intocável. Estremeceu, civilizadíssimo à mesa, diante daquela proposta. Enfiar o quê? É. Perigoso. Escandaloso e perigoso. Mais perigoso que escandaloso. Seria a revolução já. A frase, o berro, a frase berrante, tocava nessa imagem da intocabilidade. Dedo na toca. Enunciar o nada, provocar o desconhecido, tem dessas coisas. Desconcerta a ordem. Qual? A de cada um, obviamente. Não a ordem geral, a bandeira. A ordem interna. A que cada um internalizou. E daí a dificuldade de destruí-la. Sua destruição é a destruição da casa de cada um. E a casa, você sabe, é a vida de cada um. Destruir a casa é destruir a vida. A casa é a ética. Destruir a casa é destruir a ética de cada um. A casética, ou a éticasa, é um exterior no interior de cada um. Por isso mesmo, Sr., é preciso destruir a casa, a ética, a ordem, o interior para que algo, finalmente, possa acontecer. E o alvo, o ponto nevrálgico desse processo, é a ordem. A ordem que barra acontecimentos. A ordem que nada deixa acontecer. Mas o que acontecerá? Esse, aquele, estarrecimento diante da frase. Havia algo de coisal. Havia um sentimento de coisalidade. O mundo estava perto - no dedo. Agora tudo é discurso. Performance. Escrever é denunciar isso. O quê? O distanciamento do mundo. O desligamento, o desvanecimento disso. Estávamos ali - dentro do mundo. Tudo era muito sujo, vivo. Agora, nada.

9 comentários:

  1. Anelito, não gostei tanto desse fundo vermelho, ficou um pouco difícil de ler, veja isso.

    No mais, sabe que até já sonhei com aquela foto que abria a revista OrObÓ?

    Lembra daquela foto das bicicletas? Fale sobre isso.
    Abs do Lúcio Jr.

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  2. lúcio, caro, aquela foto de joão evangelista é extraordinária. penso em retomar a publicação de orobó, fazendo uma republicação dos três números num só volume, que poderia ter a foto de joão na capa. quanto ao fundo vermelho, realmente está difícil de ler, sobretudo com o texto em preto. só uns dias. abraço. anelito

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  3. Oi, Anelito, feliz natal atrasado e feliz ano novo!

    Meus pais vão passar o ano novo aí em MOC porque agora tenho um sobrinho que mora aí.

    Eu gosto do João Evangelista, mas ele é poeta da falação mesmo (e não da audição)...já cansei de colocar mensagem no blog dele, nunca dá notícias ou responde...É uma pessoa muito fechada a críticas.


    Uma pena para quem dizia ser o homem dos sete talentos. Ele esteve aqui na minha cidade e numa palestra me disse que eu e vc somos da mesma geração. Ok. Mas o que ele acha dessa geração? Isso ele não respondeu...

    Abs do Lúcio Jr.

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  4. Outra coisa: o Marcelo Coelho já leu aquele ensaio onde vc falou do Noturno? Ele tem um blog excelente...vc já deu o toque nele? Há mais tempo em tinha o endereço dele...Vcs chegaram a ter algum contato?

    Abs do Lúcio Jr.

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  5. caro lúcio, feliz 2010.
    joão tem aquele jeitão dele, mas é um grande camarada e um poeta de valor. reuni o que escrevi sobre ele num pequeno livro que pretendo lançar logo.
    sobre marcelo, gosto muito do trabalho dele de ficcionista, especialmente do estilo, é um estilista na linha de flaubert, passando pelo melhor machado e uma secura graciliana.
    estive com ele pessoalmente em sp num evento do ims e logo depois lhe remeti o ensaio "palavras da pobreza". não sabia que tinha blog.
    abraço.
    anelito

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  6. Oi, Anelito, muito obrigado e de bom prá vc!

    Eu sempre participo no blog do Marcelo, mas gostaria mesmo de conhecê-lo pessoalmente; ele já esteve em BH dando palestras.

    Aliás, a palestra que o João deu aqui foi ótima. O que eu escrevi sobre ele, perdi. Chama-se A Oeste do Contemporâneo e dizia que os poemas dele para a cidade dele (Arcos) eram convencionais. Ele me respondeu citando Octavio Paz.

    O blog dele:

    http://marcelocoelho.folha.blog.uol.com.br/

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  7. Caro, lembra do Jairo, o amigo do João Evangelista que leciona na Universidade Federal de São João del Rei? Preciso conversar com vc, me passe seu contatos. Meu email é jairo.faria@hotmail.com
    abss do Jairo

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  8. Oi, Anelito. Estou discutindo crítica em meu blog com um colunista do Digestivo Cultural e citei vc entre os críticos que respeito.

    A pergunta que ele coloca é boa: a crítica literária não está em crise, o problema seriam alguns incompetentes?

    Eu desloquei a questão para: quem são competentes, para vc? E elenquei vc.

    Aguardo sua opinião lá.

    Abs do Lúcio Jr.

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  9. caro lúcio, tudo bem? fiquei sem dizer nada a respeito deste comentário sobre a questão da crítica, que muito me interessa. não sei se tenho algo de significativo a dizer, mas gostaria de me colocar a fim da discussão, que é necessária. estou retomando as coisas aqui pra valer agora, dando sequência ao projeto das narrativas curtas de havência, e logo escreverei algo. abraço. anelito

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