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terça-feira, 9 de março de 2010

LITERATURA | Criação

A ameaça

Era preciso encontrar os pontos que ameaçavam o projeto, isolar um por um e submetê-los a uma análise rigorosa, ter clareza absoluta sobre causa e efeito de cada aspecto da questão, não deixar nada escapar, nada mesmo, qualquer vacilo poderia ser fatal, levar tudo pra água abaixo, entenderam?, e olhava como quem já sabia o tipo de reação que suscitaria naquele momento, deixaria os interlocutores surpresos, até perplexos, não tinham conhecimento profundo sobre construção de solidez, como algo nasce e cresce e cresce, sempre cresce, só cresce, como se negócio não fosse, como se fosse, na verdade, uma espécie de natureza, tão natural quanto a que encontramos no mundo, sem marcas de artifício, confundida com a percepção das pessoas de tal forma, de tal forma, vejam bem, que todos acabam trabalhando para o seu crescimento, para o crescimento desse mundo maravilhoso, todos felizes, todos sorrindo, rico ri à toa, mal sabem que, que, não, sim, a questão aqui é exatamente como não deixar que algo menor, insignificante, atrapalhe o projeto, eliminar, antecipadamente, quaisquer possibilidades de fracasso que possamos encontrar pela frente, elementos que possam inviabilizar o alcance dos nossos objetivos, que são muitos, devidamente distribuídos no tempo, curto, médio, longo prazo, o que queremos, afinal?, vocês sabem, sabemos, por isso estamos aqui, o que queremos justifica todo o sacrifício deste momento, é assim mesmo que as coisas começam, daqui a alguns anos, já com a solidez do empreendimento totalmente garantida, à medida que esse projeto fizer parte da vida cotidiana das pessoas, tornar-se um mecanismo de respiração, é, é assim mesmo, poderemos dizer, orgulhosamente, o quanto valeu a pena esta tarde de reflexão sobre aquilo que ameaça nosso projeto, foi pra isso que vieram aqui, não é mesmo?, a ameaça, acalmem-se.

3 comentários:

  1. Oi, Anelito. Por falar em projeto, negócio seguinte: John Hemingway, autor de um relato muito interessante sobre o filho de Hemingway, Gregory, que virou mulher depois de uma vida de loucuras e conflito com o velho Hemingway machão, me disse que gostaria de publicar o livro em português. Vc ainda está com a Orobó ou poderia me indicar alguma editora ou pessoa que possa ajudá-lo?

    Abs do Lúcio Jr.

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  2. lúcio, que história!
    ainda estou com a orobó edições, mas voltada exclusivamente para a poesia e projetos especiais, como a coleção dagobé, lançada ano passado.
    talvez uma grande editora pudesse se interessar, uma objetiva ou uma record, por exemplo. alguém que poderia dar uma luz para esse processo é nelson de oliveira ou joca reiners terron, cujos contatos já não tenho, mas não é difícil conseguir.
    sobre a orobó, estou articulando o retorno da revista para este ano - segunda dentição. gostaria de contar com sua colaboração. manda alguma coisa aí.
    abraço.
    anelito

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  3. Obrigado, vou procurar!

    Realmente a história é boa. John é filho de Gregory, neto do Hemingway. Gregory morreu como Gloria, chegou a implantar um seio (um só).

    Abs do Lúcio Jr.

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