Páginas

domingo, 20 de janeiro de 2013

DEBATE | Anelito de Oliveira

Questão cultural hoje

O que se passa no país como um todo hoje é uma destruição da cultura pelo Estado e seus comparsas. Não existem Secretarias de Cultura em Minas Gerais, na prática, tampouco Ministério da Cultura e outros órgãos de potencialização da cultura. O que existe, na verdade, são instâncias de negociação da cultura em prol dos negociantes do país. Quem é a Secretária de Cultura de Minas Gerais? Quem é a Ministra da Cultura? Não reconheço nenhuma autoridade nessas figuras para falar pela cultura. É muito compreensível que sequer falem pela cultura, já que foram agraciadas com os respectivos cargos para calarem sobre a cultura. 
Como entender, aliás, que PT e PSDB não se diferenciem radicalmente em relação ao tratamento institucional da cultura? Claro que a democratização, que caracterizou a gestão Gil/Juca - na linha do que ocorreu em outras gestões do PT - é um traço importante, mas ainda foi e é pouco. Não há nem haverá jamais gestão cultural autêntica no país sem enfrentamento frontal dos valores da indústria cultural, que significa enfrentamento dos paradigmas das elites estadunidenses arraigados nos seus sócios nos canais de TV, nos jornalões, nas gravadoras, nas rádios, nas editoras, nas produtoras e distribuidoras de cinema e até nas universidades. 
Os gestores de cultura que nos são impostos a cada dois e quatro anos não passam, na maioria das vezes, de bobos da corte, encantados com o cargo que ocupam porque sabem, no fundo, que num país com densidade crítica jamais seriam lembrados para representar uma área decisiva para toda sociedade. Em síntese, é este meu ponto de vista: nós, que estamos do lado da cultura, precisamos enfrentar o Estado, não pessoas - ministrazinha, secretariazinhas e secretariozinhos de uma ideia equivocada, burguesa, mesquinha, de cultura, ou seja, cultura como alta cultura. 
Enfrentar o estado é tarefa coletiva, política, organizada. Precisamos retomar os Encontros populares de cultura, Festivais de cultura, publicações alternativas, movimentos culturais os mais diversos, inventar coisas radicais, puxar, sobretudo, um grande movimento contra as safadas leis de incentivo à cultura, esse expediente neoliberal que engessou os fazedores de cultura no país. Como disse o saudoso Itamar Assumpção, numa canção-manifesto do seu "Pretobrás", "porcaria na cultura tanto bate até que fura". 
As elites - e agora me lembro de outro músico maldito, Mr. Elthomar Santoro Jr., de uma cidade onde o prefeito ousou até acabar com a Secretaria de Cultura, a Montes Claros de Darcy Ribeiro! - "emporcalharam" a cultura brasileira. Precisamos lutar, lutar e lutar contra esse estado de coisas e não nos beneficiarmos, como muitos espertos têm feito, desse estado (deplorável) de coisas. Na cultura, como nos demais departamentos da sociedade brasileira hoje, falta coragem e sobra covardia.


NOTA: Texto escrito como comentário a uma postagem do poeta, jornalista e pesquisador João Evangelista Rodrigues no Facebook. www.facebook/anelitodeolivei

Nenhum comentário:

Postar um comentário